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Soft skills na era da advocacia 5.0

Por Allana Martins Vasconcelos Valsechi

 

Não é novidade para o meio jurídico que a advocacia está se tornando mais digital, inovadora e desafiadora, com mudanças na forma de trabalho, no contato com os clientes e na manutenção da qualidade. A necessidade de acompanhar tendências, ferramentas e diferenciais para o mercado também já é escopo de atenção para os advogados e juristas.

Mas, além das capacidades técnicas, cursos e especializações que essas modalidades demandam, quais seriam as habilidades comportamentais a serem desenvolvidas?

O relatório Future of Jobs, do The World Economic Forum – WEF[1], apontou as quinze soft skills mais relevantes para o mercado de trabalho. São elas: Pensamento analítico e inovação; Aprendizagem ativa e estratégias de aprendizagem; Resolução de problemas complexos; Pensamento crítico; Criatividade, originalidade e iniciativa; Liderança e influência; Uso, monitoramento e controle de tecnologia; Design de tecnologia e programação; Resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade; Raciocínio, resolução de problemas e ideação; Inteligência emocional; Resolução de problemas na experiência do usuário; Mentalidade de customer service; Análise e avaliação de sistemas; Persuasão e negociação.

Trata-se de competências específicas que vão se complementando e que na rotina das atuações profissionais já são praticadas e percebíveis em dinâmicas de trabalho, comunicação entre as partes, trabalho em equipe, feedbacks, entre outros. No âmbito jurídico podemos destacar algumas competências que devem ser praticadas na era digital: Pensamento analítico e inovação; Criatividade, originalidade e iniciativa; Uso, monitoramento e controle de tecnologia; Resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade; Inteligência emocional; Persuasão e negociação.

O trabalho jurídico é intercalado pela comunicação escrita, oratória, escuta ativa e interlocução com os dados e aprendizados obtidos com a inteligência artificial. São formas multifacetadas de compilarmos a comunicação entre os times, clientes e destinatários das mensagens. No atual cenário híbrido, o desafio entre equilibrarmos essas formas de interações aumenta, pois lidamos com perfis diversos de pessoas e conectividade com as mensagens e interações no sistema judiciário em geral.

É nesse cenário que se torna necessário potencializar as competências comportamentais de acordo com as situações cotidianas do trabalho. Já abordamos em outros artigos desse portal sobre como podemos humanizar nossas habilidades em época de robotização[2] e sobre o lifelong learning – capacidade de aprendizagem contínua[3], que são complementares ao tema atual.

Para o presente artigo, contextualizaremos exemplos práticos de exercício das soft skills destacadas anteriormente:

* Pensamento analítico e inovação: a inovação requer tempo e empenho, uma vez que as necessidades de resolver problemas e entregar resultados impulsionam o desenvolvimento, o repertório e o aprimoramento de soluções. Para essa construção o pensamento analítico irá escalonar os projetos com as etapas necessárias. Podemos aumentar esses imputs, para que sejam processados em outputs e se tornem insights pela absorção de diversas fontes de informações (podcasts, artigos, livros, cursos, estudos, palestras, conversas, eventos, entre outros) com conexões de memórias e anotações chaves para consulta em momentos oportunos.

Ao acionarmos nosso banco de dados de forma analítica e minuciosa, vamos formando um desenho esquematizado para a concretização do resultado.

* Criatividade, originalidade e iniciativa: a criatividade está amplamente conectada com o item anterior, pois é através do repertório que novas ideias surgem para aplicação nas situações em pauta. Mas é com a iniciativa de fazer diferente, ajustar e adaptar que os resultados serão executados.

Convém relembrarmos que nem sempre uma solução ou iniciativa serão totalmente novas ou inventivas. Muitas vezes basta a readequação da comunicação, novas formas de trabalho, ferramentas que estavam em desuso e acompanhamento ágil para que soluções sejam entregues. Verificamos a constante necessidade de revisitar fluxos e mapear processos.

Murilo Gun, referência em criatividade e pautas corporativas de autoconhecimento[4], disse que a vida é mais criativa que a gente. Com isso, lembramos que por mais que seja necessário o planejamento, para que as ideias fluam e convirjam entre si, também é importante deixarmos espaço para que a dança entre o caos e a ordem siga no estado de flow.

* Uso, monitoramento e controle de tecnologia: na era digitalizada não podemos avançar em desenvolvimento sem a utilização da tecnologia como aliada. Muito se fala sobre a inteligência artificial, sistemas e integração de dados para concatenarmos ideias e otimização de fluxos. Estamos diante de uma relação de reciprocidade em que a IA vai aprender conosco e vamos aprendendo no caminho os poderes que ela detém. Temos indícios, perguntas e hipóteses; no entanto, somente o uso e o aprimoramento vão nos apontar os rumos que a tecnologia nos levará.

No âmbito da capacitação vale sermos atentos, curiosos, interessados para entendermos quais habilidades devemos estudar e quais parceiros teremos na jornada. A boa notícia é que o conhecimento, atualmente, é bem acessível, oportunizando testes e incorporação ao nosso cotidiano para que as tecnologias sejam mais familiares.

* Resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade: O cuidado primordial incluirá o monitoramento do estresse e a prática de exercícios que promovam a flexibilidade, especialmente diante das rápidas mudanças tecnológicas e da necessidade de aprimorar habilidades.

Nesse tópico cabe um lembrete para o autoconhecimento. Cada um saberá quais as melhores técnicas para desanuviar a mente, fazendo pausas e permitindo espaços para que as demandas fluam melhor. Isso pode ocorrer com ações como: praticar exercícios, tomar cafés, ouvir músicas e podcasts, iniciar mais cedo ou terminar um pouco mais tarde a jornada, fazer pausas para silenciar, meditar, yoga, entre outros.

O que vale é ser funcional, com práticas que acolham os sentimentos e sensações, descarregando o estresse e pegando carona na filosofia estoica, que muito tem a nos ensinar sobre sabedoria, perseverança e a arte de viver[5]. Precisamos blindar o que estiver ao nosso alcance, acolher o que fugir de nosso controle e filtrar com equilíbrio onde deixaremos nossas energias.

* Inteligência emocional: essa habilidade demandaria um artigo especial. Há estigmas sobre o que é ser emocionalmente inteligente, alguns mitos sobre o tema e muitas pessoas que deveriam dar mais atenção a ela.

A inteligência emocional está relacionada com lidarmos com nossos sentimentos, principalmente nas interações sociais. Não é sobre ser calmo o tempo todo (o ser humano é complexo, mesclando momentos de serenidade e celeuma) ou não ser emotivo e chorar (grande tabu nas interações!).

Temos ouvido que as pessoas estão mais impacientes, correndo com suas atividades, estressadas, com excesso de produtividade e falta de tempo; isso é resultado das interferências do mundo hiperconectado. Aplicar a inteligência emocional proporcionará lidar com mais assertividade em momentos complexos, tornando possível traçar metas e planejar a rotina com mais leveza.

Os pilares da inteligência emocional são: autoconhecimento, autogestão, automotivação, empatia e gestão de relacionamentos. Ao revermos nossas condutas e quais vieses devemos aprimorar, lidaremos melhor com essa inteligência tão essencial para comandar todas as outras.

* Persuasão e negociação: os advogados lidam diariamente com clientes, prestadores de serviços e times. A comunicação por meio da negociação é essencial nessas relações, seja para alinhamento de propostas de acordo com o adverso, fluxos entre as equipes e entregas de demandas para os clientes. Principalmente na parte contenciosa, a persuasão e a forma de negociar são inerentes ao negócio.

Portanto intensificar a negociação por meio de ferramentas, dados, e conectividade de ideias é crucial para o sucesso do trabalho jurídico, passando pelos pilares da flexibilidade, exposição de interesses e a busca pelo denominador comum entre os envolvidos, consolidando a relação de ganha-ganha.

 Diante dos insights compartilhados concluímos que as soft skills em destaque estão enquadradas nas categorias de comunicação, pensamento crítico, flexibilidade, adaptabilidade, resiliência, criatividade, resolução de problemas, inovação e manuseio de ferramentas de tecnologia. Essas são infladas pelas habilidades técnicas e necessidade constante de atualizações que o cenário do mundo do trabalho nos exige. Com organização e empenho, os resultados vão sendo complementados. Porém, é através da prática que essas competências evoluem, tornando-nos cada vez mais colaborativos e humanizados. Lembrando sempre que a jornada acontece no movimento, na escalada de cada degrau do nosso (auto) conhecimento!

 

[1] https://www3.weforum.org/docs/WEF_Future_of_Jobs_2020.pdf

[2] https://www.advogadosgestores.com.br/artigos-colunistas/como-aplicar-a-humanizacao-em-tempos-de-processos-de-robotizacao/

[3] https://www.advogadosgestores.com.br/artigos-colunistas/lifelong-learning-e-juridico-a-beleza-de-ser-um-eterno-aprendiz/

[4]  Os cursos do Murilo estão disponíveis gratuitamente e tem conteúdos incríveis para expansão dessa habilidade tão essencial: criatividade. Acesso em: https://www.murilogun.com.br/cursos

[5] A dica de livro sobre o tema é Diário Estoico: 366 lições sobre sabedoria, perseverança e a arte de viver / Ryan Holiday, Stephen Hanselman.

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