Olá! Se você está chegando aqui pela primeira vez, devo alertar que esta coluna faz parte de uma série de artigos anteriores que venho escrevendo sobre o Design, o Design Thinking e o uso desta metodologia dentro do ambiente jurídico. Especificamente este texto é a segunda parte de uma trilogia que envolve os três pilares do Design Thinking (DT). Nesta série de três artigos apresento os pilares e algumas ferramentas para colocá-los em prática. Aqui, nosso tema é a etapa posterior às primeiras impressões da observação: a criação da inovação a partir da coparticipação.
Sociedade em Redes
Para pensar em processos de inovação é preciso antes de tudo chamar a atenção para uma questão um pouco teórica. Vivemos, com a ajuda das tecnologias da informação, uma transformação paradigmática. A ideia de sociedade em redes deve ser vista pelos gestores não apenas a partir das redes de comunicação proporcionadas pela TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação). Junto à internet, ressurge uma maneira de pensar que se diferencia do pensamento da modernidade e das demais Revoluções Tecnológicas.
Alguns autores afirmam que a sociedade das revoluções tecnológicas anteriores à revolução atual – das TICs – tinham o mecanicismo e os seus sistemas como paradigma. Por exemplo, o organograma das empresas e do Estado estão baseados na ideia de um centro de comando (um cérebro) que é o responsável pelo funcionamento do resto do corpo e dos órgãos. Lembra-se das aulas de Teoria Política da Faculdade de Direito, onde o Thomas Hobbes dizia que o Estado era como um Leviatã, um monstro com cérebro, músculos e órgãos?
Quando falamos de tecnologias da informação é importante ter em mente que elas levam e são levadas por uma ideia muito maior do que uma mudança de paradigma apenas tecnológico. A sociedade em redes deve referir-se à mudança de paradigmas sociais e topológicos; e por que não, de gerações? Por isso, Manuel Castells (1999) defende que antes das redes serem um modelo de comunicação entre computadores, elas são o modelo topológico que acaba sendo transferido para as empresas e para o setor público. Desse modo, para Roberto Armando Ramos de Aguiar, professor de Direito na Universidade Nacional de Brasília (UNB), a sociedade em redes não dá legitimidade para instituições que atuam na forma de pirâmide ou de hierarquia, em organização vertical, como o Direito.
Horizontalidade e Transdisciplinariedade
Tim Brown, talvez o fundador do conceito de DT (Design Thinking), escreveu que “a internet (…) é mais o modelo do que o meio das novas formas de organização (…). Por ser de código aberto e ilimitada (…) permite que a energia de muitas pequenas equipes seja reunida para solucionar o mesmo problema”.
Assim, a etapa de cocriação deve ter em mente dois tipos de interação: 1) interação entre criadores e usuários – a criação de soluções é melhor quando há possibilidade da participação dos usuários de um serviço ou produtos no processo de criação ou melhoria; 2) interação entre profissionais de diversas áreas da empresa – quanto mais multidisciplinar for a busca das soluções, mais rico será o processo de inovação.
Este modelo de criação, em redes e horizontalidade, é o que faz com que uma inovação seja aceita e gere fidelidade às propostas. Como afirma Michel Callon (2013), “a inovação é um processo coletivo. Ninguém conhece o fim da viagem. Não sabemos aonde vamos, mas vamos todos juntos: esta é a beleza da inovação. O mundo novo resulta de um empreendimento coletivo feito de vontades e interesses individuais que negociam e, gradualmente, constroem uma casa comum”.
Ferramentas de Cocriação
Assim, a segunda etapa do DT (Design Thinking) requer uma mudança no pensamento centralizador de quem deseja inovar. Qualquer inovação que se queira implementar envolve a participação dos usuários, bem como a busca por uma equipe multidisciplinar, com bagagens culturais diferentes e modo diversificado na observação dos fenômenos.
Mas, como fazer isso? Apresento duas ferramentas para colocar em prática este pilar do DT. Claro que a intenção não chega, nem de perto, a esgotar o tema.
1) Sessões de Brainstorming
Uma sessão de brainstorming significa, traduzindo para o português, “chuva de ideias”. Assim, o método é literalmente separar um monte de post-it para cada um dos participantes (lembre-se, pode ser diretores, criadores, advogados, estagiários, clientes, familiares dos advogados – quanto mais gente e com formações e ideias diferentes, melhor) e eles vão colando as ideias que vêm à mente sobre soluções possíveis para alguma coisa.
Nesta etapa é essencial não ter qualquer preconceito com as ideias. Quanto mais a cabeça e o coração das pessoas estiverem abertos, melhor será o processo de chuva de ideias. As ideias não têm amarras. Deixe para eliminar ideias apenas num segundo ou terceiro momento. Deixe que os participantes do processo sejam livres para sonhar e até mesmo pensar coisas que pareçam absurdas.
2) MESCRAI
Esta ferramenta pode ser usada após o brainstorming. É uma sigla que significa:
- Modifique – como o grupo ou você poderia modificar uma ideia para ela gerar mais valor?
- Elimine – quais ideias geradas podem ser eliminadas ou mescladas com outras parecidas? Agora é hora de selecionar as ideias!
- Substitua – com quais materiais ou ferramentas você poderia substituir uma ideia apresentada?
- Combine – combine ideias apresentadas criando outra ideia.
- Rearranje e Adapte as ideias e os serviços.
- Inverta – como algumas premissas da ideia apresentada podem ser invertidas, criando alguma solução que se afaste das amarras da tradição?
Referências Bibliográficas
AGUIAR, Roberto A R. de. Alteridade e rede no direito, 2017.
BROWN, Tim. Design Thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias, 2017.
CALLON, Michel. Por uma nova abordagem da ciência, da inovação e do mercado. O papel das redes sociotécnicas. 2013.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede, 1999.