Por Juliana Chinem
Ninguém espera que um advogado não seja acostumado a falar em público.
Quando refletimos sobre essa condição imposta à profissão, é curioso pensar que não há teste vocacional, aula na faculdade ou trabalho em grupo que prepare você para o que mercado aguarda: alguém que fale em público. E mais: um advogado que fale bem, fale alto e seja aplaudido.
No entanto o medo de falar em público é uma das fobias mais comuns. Pesquisas apontam que essa fobia é citada logo depois do medo da morte, aranhas e altura. Aliás, a Associação Americana de Psiquiatria passou a classificar o transtorno como “ansiedade de falar em público” ou “glossofobia”, chegando a apontar que quase 75% da população mundial é afetada por essa condição.
Mas quando atendemos os clientes, falamos com outros colegas, entramos em videoconferência e atendemos uma audiência, também estamos falando em público. E por que a reação de lutar ou fugir, que está na raiz da ansiedade, aparece de forma mais forte quando somos chamados a falar em público?
Uma das explicações é que, quando estamos estressados, nossos corpos liberam hormônios que embaralham a parte do cérebro responsável pela memória. As tarefas do dia a dia não causam tanto estresse porque acontecem de forma natural.
Sob pressão em uma apresentação, a sua mente pode ficar em branco justamente pelo estresse do momento, você esquece aquela frase de abertura que havia praticado tantas vezes ou a chamada para a ação logo no final da apresentação. Esse erro é tão comum que, em treinos dados para oradores, praticamos mais o ato de se apresentar ao invés de focar exatamente no que será apresentado.
Outra preocupação é com a possibilidade de não estarmos à altura do evento, especialmente quando fazemos apresentações para pessoas mais experientes. Podemos até questionar se realmente somos capazes de agregar alguma coisa para o nosso público. E ainda, a maioria das pessoas não está acostumada a ficar no palco ou com um microfone na mão. Falar em público, porém, é uma habilidade que pode ser alcançada com preparação e prática.
Tenho pequenas estratégias que podem ajudar de forma imediata. Visualize o local, faça um teste para que não haja surpresas que possam desencadear o estresse. Caso sua apresentação seja em um palco, veja se há espaço para se movimentar e se o equipamento é adequado para isso. Se houver essa chance, dê uma olhada na iluminação e prepare alguns movimentos, escolhendo onde se posicionar.
Dominar o conteúdo, compreender realmente o assunto a ser tratado e ver o objetivo da sua apresentação ajuda a aliviar o nervosismo. Em geral, recomendo que não memorize sua palestra porque isso vai dar a impressão de que é tudo muito forçado, artificial. Se você der a impressão de que esqueceu de dizer uma palavra ou uma frase, ou que pulou uma parte da apresentação, a reação do público pode ser inesperada e você ficará mais confuso ainda.
Também não fique dependendo dos slides que serão exibidos ao fundo. Você é o protagonista, não aquelas palavras ou imagens que são apresentadas.
Experimente gravar a apresentação algumas vezes no celular. Peça ajuda aos sócios, amigos ou familiares para analisar o conteúdo e como o seu público irá assistir. Peça e aceite respostas honestas, isso só ajudará a melhorar a apresentação.
Certamente você tem muito conhecimento para compartilhar com o seu público, afinal foi convidado como um especialista no tema. Em geral, a maioria das pessoas consegue se concentrar por apenas 20 minutos e lembrar apenas três pontos apresentados, no máximo. Portanto, seja criterioso na escolha do conteúdo e invista especialmente no momento de abertura, quando todos os olhos estão voltados para você.
Lembre-se do objetivo de qualquer apresentação: ensinar. Você está ali para transmitir seus conhecimentos, mesmo quando quer vender algo ou apresentar uma nova oportunidade. E uma boa estratégia é o uso de histórias na sua apresentação. Pesquisas indicam que os ouvintes têm 22 vezes mais probabilidade de se lembrar de algo que foi incluído em uma história.
Reunindo essas dicas, procure oportunidades para falar em público. Treine com antecedência, pesquise sobre técnicas de oratória e agarre as oportunidades. Sua posição como especialista no assunto só irá aumentar.
Juliana Chinem é Advogada e Escritora. Autora do livro “Coaching de Oratória” pela Ed. Matrix e coautora do livro “Manual de Coaching para Advogados” pela OAB/ESA São Paulo, dentre outras obras. Ex-coordenadora de Oratória e Comunicação da Comissão Especial de Empreendedorismo Legal da OAB/SP, também foi Diretora Adjunta da Comissão de Gestão de Escritórios de Advocacia da OAB Jabaquara.