Por Fernanda Tannous
Este artigo será o menos (puramente) técnico que escrevo em muito tempo. Com os estudos (estou fazendo mestrado), é natural que sejamos moldados a escrever de uma forma mais científica, sempre pensando no próximo tema a ser abordado e nas referências a serem utilizadas. Mesmo no Direito. Como, em maioria, advogados, temos uma tendência a escrever de forma muito técnica o que pode nos engessar a longo prazo.
No entanto, o que me motivou a escrever esse material mais real (talvez) é o estado em que me encontro nesse momento. É madrugada de segunda para terça-feira e me encontro sentada, em frente ao computador, com milhares de ideias na cabeça prontas para saírem do papel, mas estou exausta.
Um pouco de contexto, talvez, seja necessário!
Sou uma advogada que se tornou empresária.
Essa frase já traduz 75% da minha insônia de hoje. 20% dedico à função mãe e 5% à função de me olhar com mais compaixão e compreender que eu preciso de descanso.
Nessa reflexão, notei que a minha insônia poderia ser o sono tranquilo de alguém no futuro, se eu resolvesse expressar como estou me sentindo como profissional neste exato momento. Ao mesmo tempo, profissionais mais experientes poderão me dizer (talvez) o que o futuro me reserva. Acolher de um lado e ser acolhida de outro, como tenho sido (felizmente) durante a maior parte da minha caminhada profissional.
Me formei em 2012, em Direito, pela Faculdade de São Bernardo do Campo e fui lançada, frustrada, em um mercado de trabalho já concorrido na época.
No início da minha carreira, eu me autodenominava como “advogada que gostava de fazer tudo o que a maioria dos advogados não gostava”. Comecei a explorar materiais que nada tinham a ver com o Direito e fazer um “detox” da graduação.
Em 2015, tive o meu primeiro contato com o que é denominado hoje a Controladoria Jurídica de um escritório. Atuava sozinha e a função nem “centro de custo” direito tinha (risos).
Já em 2016, tive a minha primeira oportunidade como líder de um time de Controladoria Jurídica e enfrentei grandes desafios que eu não estava esperando como uma graduada em Direito.
Estava amando a recente descoberta e me dedicando ao máximo. Em 2017, vi a necessidade de desenvolver algumas competências mais refinadas para ser uma profissional e líder melhor, e foi aqui que iniciei o meu MBA em Gestão.
Neste mesmo ano a TL Adsumus, minha empresa, foi concebida. Após o meu desligamento do último escritório, resolvi me empenhar em construir um negócio próprio em que eu mesma poderia desenvolver um modelo de gestão eficiente e, que até então, eu não tinha tido a oportunidade de colocar em prática.
A TL Adsumus, originalmente, iniciou as suas operações como uma empresa de correspondência jurídica atuante em todo o território nacional, com um modelo de gestão interna ágil e colaborativa. Esse modelo criado tinha o objetivo de reduzir o lead time de entrega ao cliente, bem como melhorar a qualidade do resultado da correspondência jurídica.
Estávamos indo super bem até que, com 8 meses de existência da empresa, engravidei da minha filha Elis. A partir daquele momento, na minha cabeça e na do meu marido, as chances eram apenas duas: ou a empresa daria certo ou eu voltaria para o mercado de trabalho frustrada, grávida e sem a menor chance de ser contratada para qualquer emprego.
Quando digo que a concepção da empresa foi em 2017 e o seu nascimento, propriamente, foi em 2018, considero que eu já vinha analisando a potencialidade que aquele modelo de gestão tinha. Por isso, investir integralmente na empresa ainda na gestação foi uma aposta embasada em chances de vencer, mas eu não sabia quais eram as possibilidades exatas de isso acontecer.
Alguns meses antes da minha filha nascer, treinei um colega para me substituir na operação da empresa por alguns dias (sim, dias) para que eu pudesse dar à luz (risos). Essa parceria se estendeu e rendeu bons frutos. Já em uma sociedade, um dos nossos maiores clientes da época nos procurou quando a minha filha tinha apenas um mês de vida (assinei o contrato, literalmente, entre um turno e outro da amamentação).
A partir daí, a TL Adsumus cresceu exponencialmente. Fruto de investimentos constantes. Desde 2023 sigo em uma sociedade unipessoal, mas com um time incrível que esse processo me proporcionou conhecer e ver crescer.
Foi só no decorrer de um período bem desafiador em 2023, em uma epifania durante um dos meus maiores momentos de desespero, que eu compreendi que a TL Adsumus sempre foi algo que eu NUNCA poderia imaginar. Minha empresa se tornou a materialização do meu propósito de vida e não apenas uma realização profissional.
Aquele projeto que um dia estava apenas no meu imaginário, estava mudando o mercado jurídico e ainda proporcionando oportunidades únicas para profissionais novos. Ao final do dia, mesmo muito cansada, o sentimento era de dever cumprido.
Essas palavras que resolvi compartilhar com vocês foram capazes de transformar as minhas lágrimas. Elas já não caem mais pelo cansaço e estafa. Agora são suaves, de orgulho e agradecimento por ter a oportunidade de escrever sobre essa experiência.
O caminho do advogado gestor não é fácil e não há muitas regras a serem seguidas para quem almeja alcançar o seu propósito. O excesso de informações pode ser, inclusive, uma armadilha como mencionado por Allana em seu artigo deste portal. A síndrome de FOMO Fear of missing out – Medo de perder algo) é um dos enormes desafios da especialização de um profissional atualmente.
Por isso, esse artigo tem a intenção de trazer a importância de compreendermos o nosso próprio processo de evolução profissional como advogado gestor. Conhecermos a nós mesmos como agentes da mudança para adaptarmos os caminhos a serem percorridos em busca dos nossos objetivos. Nossos próprios pontos fortes e fracos são excelentes direcionadores da nossa energia.
Espero que o texto deste mês contribua com valiosos insights a quem o desejar ler.
Até a próxima.
Fernanda Tannous