Por Cristiane Caldas
Saímos da faculdade de direito sabendo fazer um contrato, uma petição e chamar o juiz de meritíssimo, entretanto o mundo real não é isso! Não aprendemos nada sobre os desafios da advocacia, quanto mais da advocacia corporativa, como: análise de risco, comunicação corporativa, contingenciamento, budget, headcount, gestão de pessoas, planejamento estratégico, etc.
Esse artigo não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas abordar planejamento estratégico na prática, esse framework poderá ser aplicado em qualquer área, até mesmo para os seus projetos pessoais, através dele pode se estruturar e organizar para alcançar a posição desejada de modo mais eficiente e efetivo.
Chiavenato afirma que o planejamento estratégico “é um processo de formulação de estratégias organizacionais no qual se busca a inserção da organização e de sua missão no ambiente em que ela está atuando”(CHIAVENATO; SAPIRO, 2003, p.39). Para Drucker “é o processo contínuo de, sistematicamente e com o maior conhecimento possível do futuro contido, tomar decisões atuais que envolvem riscos; organizar sistematicamente as atividades necessárias à execução dessas decisões e, através de uma retroalimentação organizada e sistemática, medir o resultado dessas decisões em confronto com as expectativas alimentadas” (DRUCKER, 1984, p.133-136).
O planejamento é um instrumento para programar estratégias, de modo a atingir os objetivos pretendidos. O planejamento pode ser dividido em 04 etapas: 1ª – Diagnóstico. (Análise dos ambientes interno e externo e Missão, Visão e Valores), 2ª – Definição de metas e objetivos e indicadores. 3ª – Definição do plano de ação. 4ª– Acompanhamento de resultados. Assim como, quando queremos colocar em quadro na parede, podemos usar apenas martelo e pregou, ou, quando o quadro é muito pesado, usar furadeira, parafuso e bucha. No planejamento, cada fase tem uma ferramenta específica ou mais adequada para a sua execução.
A etapa do diagnóstico, pode ser subdividida em coleta de dados e identidade organizacional. Na coleta temos que demonstrar onde estamos no retrato atual, para tanto, analisamos os ambientes interno (recursos, competências, capacidades e cadeia de valor) e externo (cenários, oportunidades e ameaças). Nessa fase, podemos usar a matriz SWOT, ou Análise FOFA, criada por Albert Humphrey. Essa técnica identifica sistematicamente os pontos fortes, os prontos fracos, as oportunidades, e as ameaças e o desenvolvimento de estratégias.
Na identidade organizacional, devemos ter o entendimento do propósito, valores e objetivos, tanto pelo público interno quanto pelo externo. Na prática conseguimos estruturar isso, através da ferramenta o Golden Circle, do Simon Sinek. O Círculo Dourado é dividido em três camadas a camada central é O “PORQUÊ”, um propósito, uma missão, uma crença. O “COMO” são os valores, ações (verbos), é a forma que fazem para realizar essa missão. Essa é a parte mais difícil, pois esses princípios são inegociáveis. O “O QUÊ”, é o resultado, o objetivo, é o que fazem.
Na segunda etapa definimos os objetivos, as metas e indicadores. O objetivo deve ser desafiador, a ponto de exigir um esforço extra. Para tanto, podemos utilizar uma metodologia de gestão o OKR, criado por Andrew Grove, objectives and key results (objetivos e resultados-chave) para definir os objetivos, como sendo “Eu vou”, e seus indicadores, como sendo “medido por” (resultados-chave). As metas são a etapa intermediária para alcançar o objetivo, para tanto, podemos usar o mapa mental, metodologia criada por Tony Buzan, ajuda a desdobrar os objetivos de longo prazo em objetivos de curto e médio prazo. Ao final, podemos usar o Método SMART, ferramenta criada por Peter Drucker, para conferir que todas as metas são: specific (específico), measurable (mensurável), achievable (alcançável) com os recursos (analisada na etapa do diagnostico), realistic (realista) e timely (oportuno), para conseguir alcançar seus objetivos estratégicos.
A terceira etapa é o plano de ação propriamente dito. Nessa fase, temos que conectar os objetivos as metas, as ações que precisará executar para alcançar os objetivos. A ferramenta da gestão ideal para esse propósito é o 5W2H, what (o que deve ser feito), who (quem), where (onde), when (quando), how (como) e howmuch (quanto).Ao responder estas 7 perguntas, o plano estará pronto. A matriz GUT poderá auxiliar na identificação das prioridades, baseada em 03 critérios: gravidade (G), urgência (U) e tendência (T).
A quarta e última etapa, mas não menos importante, é o acompanhamento, análise e avaliação do planejamento estratégico. Para acompanhar a execução podemos usar o KANBAN, ferramenta visual, com a utilização de colunas e cartões coloridos, para controle de tarefas. Para analisar e avaliar, a dica é usar a ferramenta da Melhoria Contínua, o Ciclo PDCA, que tem como objetivo de concretizar a padronização e a resolução de problemas, gerando a melhoria de processos de forma constante. Essa metodologia de gerenciamento foi desenvolvida por Walter A. Shewhart, é dividida quatro etapas:plan (planejar), do (fazer), check (checar) e act(agir). Padronize o que deu certo e corrija o que deu errado. A ferramenta da Qualidade, o Diagrama de Ishikawa ou espinha de peixe, criado por Kaoru Ishikawa, possibilita a identificação de possíveis causas da não conformidade, em diferentes perspectivas. O FCA, ou análise de Fato, Causa e Ação, ajuda a identificar a causa raiz, e o planejamento de ações corretivas para que o problema não corra novamente. Portanto, o planejamento deve ser um processo contínuo, permanente e dinâmico.
Essa não é uma etapa, mas é tão importante quanto qualquer outra das fases citadas, o planejamento estratégico é colaborativo, por isso é fundamental a comunicação do que precisa ser feito, e, principalmente, o porquê, a fim motivar e engajar a equipe, caso contrário o plano de ação não será capaz de gerar os resultados.
Referência Bibliográfica:
ABDALA, Márcio M. et al. Administração estratégica: da teoria à prática no Brasil. São Paulo: Atlas, 2019.
CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento estratégico: fundamentos e aplicações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
DRUCKER, P. Introdução à Administração. São Paulo: Pioneira, 1984.
REBOUÇAS, Djalma. Planejamento estratégico: conceitos, metodologia e práticas. São Paulo: Atlas, 2018.
SINEK, Simon. Comece pelo porquê: Como grandes líderes inspiram pessoas e equipes a agir. Tradução de Paulo Geiger. Rio de Janeiro: Editora Sextante; 2018.