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Design Thinking: O Pensamento do Design dentro do Direito

Por João Paulo Anderson  

 

O Design Thinking tem uma abordagem muito interessante e neste artigo apresentarei uma definição explicativa sobre o Design Thinking e como aplicar sua metodologia dentro do Direito.

Eu tive contato com o Design Thinking logo depois que eu terminei a faculdade de Direito. O curso de Direito foi minha segunda graduação, a primeira foi Publicidade. Meu cenário de recém-formado em Direito era de buscar clientes para exercer a atividade que minha recém carteira cor salmão me dava direito, a Advocacia. Eu não era vinculado a nenhum escritório de advocacia e nem ao serviço público.

Foi aí que surgiu a oportunidade de um curso chamado Jovens Profissionais do Desenvolvimento (JPD). O curso tinha como público-alvo jovens como eu, entre os 25 e 40 anos que estavam desgostosos com a sua atuação dentro do mercado de trabalho. Palavras em voga hoje, como inovação, empreendedorismo, compliance, ESG (Environmental, Social and Governance), sustentabilidade, entre outras, não faziam parte do vocabulário de propaganda daquele curso.

Mas era disso que se tratava. Eu diria que o curso estava alinhado com o empreendedorismo social, embora fosse dividido nas três classificações de setores mais clássica da economia: atuação dentro das empresas; atuação dentro do setor público; e atuação no terceiro setor.

No curso conheci pessoas de outras áreas como Administração de Empresa, Comunicação, Engenharia, Arquitetura e Psicologia. Só eu e mais uma pessoa que éramos do Direito. O curso lidava com duas ferramentas para inovação – o Design Thinking e a Teoria U. As duas abordagens e metodologias podem ser sintetizadas num mesmo processo.

A partir do JPD – Jovens Profissionais do Desenvolvimento- foi semeada em mim uma semente que germinaria mais tarde. Minha questão profissional e pessoal estava em: “Como eu poderia, a partir do conhecimento sobre as abordagens do Design Thinking e da Teoria U, trazer para dentro do direito uma nova forma de se fazer o direito, de inovar? Como seria isso? Uma empresa de consultoria, sendo contratada por uma instituição ou por um escritório de advocacia? Não havia ainda a febre de chamar tudo de startup, então a ideia de uma startup, founder e CEO não me veio à cabeça.

Após o curso JPD eu fui trabalhei no setor público, fui estagiário e servidor do Ministério Público do Paraná. Embora eu tivesse abertura com o Dr. Leonardo Busatto para aplicar muitas das coisas que eu havia aprendido sobre Design Thinking e Teoria U, logo após a sua promoção para Curitiba eu acabei sendo demitido do MP.

A demissão abriu o caminho para a área acadêmica. Entrei no mestrado para estudar pluralismo jurídico a partir da sociedade em redes, assunto que acredito que tenha muito a ver com o Design Thinking. Neste tempo também apresentei um trabalho de conclusão de curso em Gestão da Saúde cujo tema era a aplicação do Design Thinking nesta área, ou seja, o Design Thinking sempre esteve como meu objeto de estudo.

Foi a partir do mestrado que criei um canal de divulgação científica em Direito chamado @direitoerede, no Instagram. O objetivo era começar a traçar meu caminho de comunicador na área do Direito, vias que continuo seguindo ao ser convidado para escrever aqui no Portal.

Logo nas primeiras semanas do canal @direitoerede abri uma enquete perguntando qual era o assunto que meus seguidores gostariam de ouvir e ver no canal. A única resposta que obtive foi Marketing Jurídico.

 

Mas, o que é marketing?

Como pesquisador, aquela resposta me abriu uma sequência de perguntas, caminhos e portas dentro da cabeça. A primeira questão foi: o que é marketing? No que ele se diferencia quando é jurídico? Como eu abordaria Marketing Jurídico dentro de um canal que liga o direito com a sociedade em redes?

Bom, anteriormente eu mencionei que eu sou formado em publicidade. Embora eu nunca tenha aplicado o Marketing e a Publicidade como profissão após minha formatura, vários conceitos dessas disciplinas são bastante íntimos e conhecidos.

O papa do Marketing se chama Philip Kotler. Dentro do curso de Publicidade, uma das únicas “doutrinas” é o livro “Administração de Marketing”, desse autor. Eu comprei o livro, até pouco tempo eu o tinha na minha casa, mas acabei doando um monte de livro que não estava utilizando.

Um tempo depois, ainda mais interessado por economia, política e direito – principalmente porque comecei a cursar Direito – eu comprei outro livro do Kotler: “Capitalismo em Confronto”. Era muito interessante ler livros sobre revisão do capitalismo vindo de autores economistas reconhecidamente de esquerda. No entanto, o Kotler eu conhecia, pois foi ele que me passou os conceitos mais “positivos” – com quase nenhuma reflexão social – sobre consumo, sobre marketing, sobre empreendedorismo, sobre lucro e vendas. Por que um autor tão ligado ao marketing, que não era muito relacionado com ideias de esquerda, estaria falando de uma revisão do capitalismo?

 

4 Ps do Marketing Jurídico

Do livro mais conhecido do Kotler, uma espécie de manual, eu lembro de um “macete” do marketing: os 4 Ps – Preço, Praça, Promoção, Produto. Os 4Ps são aplicados para qualquer plano de Marketing, seja para abrir uma empresa, seja para a criação de uma nova forma de comunicação para alavancar vendas. São como o LIMPE para o Direito Administrativo.

Assim, voltando para a história do canal de divulgação científica @direitoerede e da resposta que eu obtive ao pedirem para falar sobre marketing jurídico, o que me veio à mente era como pensar e aplicar os 4 Ps do Marketing: dentro do direito; a partir de uma visão de Capitalismo em Confronto; e usando-se dos conceitos, métodos e abordagens do Design Thinking e da Teoria U.

Olhando para os 4 Ps, e para o Design Thinking (vou deixar a Teoria U para explicar num outro momento) surgem diversas questões. Qual é o Produto do Direito? Como é feita a Promoção deste produto? Qual o público-alvo do Direito? Qual é o seu usuário? Qual o preço? Onde o advogado atua? Onde o advogado vende o seu produto? Quais as necessidades do usuário do direito?

 

Imaginar e refletir como um designer

Qualquer exercício de tradução é um exercício complexo. Design Thinking, traduzido, pode significar “pensamento do design”. Mas to think, em português, pode ser também refletir, pensar, achar, imaginar, ter uma opinião. Acredito que a tradução para “pensar” não é muito boa, porque denota um raciocínio, um racional, que é contrário à imaginação e reflexão, por exemplo. Quando dizemos que pensamos como um designer pensaria, estamos relevando que um designer também imagina, supõe, acha alguma coisa.

Existem três pilares que estariam nesta reflexão, ou pensamento, do design. Eu os classifico como: 1) Observar; 2) Cocriar; 3) Prototipar. No entanto, os autores que escrevem sobre o Design Thinking não o tratam como uma metodologia. Thais Falabella, que conheci durante meu processo de estudo e comunicação sobre o Direito e o Design Thinking, prefere chamar de abordagem. Uma abordagem não é uma metodologia, ou seja, não é um conjunto de procedimentos estabelecidos para se chegar ao êxito,  mas é um conjunto potencial de crenças, uma forma de agir.

 

Novos Profissionais do Direito

A partir do desafio que me foi colocado, para falar sobre Marketing Jurídico, o que me veio à mente foi buscar parcerias para falar sobre o assunto não como um processo pronto, mas como um processo de reflexão e imaginação a partir das perguntas – as quais já mencionei anteriormente, adicionado a outras perguntas que possam surgir olhando para o direito e para a sociedade.

Livros como o Capitalismo em Confronto, do Kotler, e tantos outros que falam sobre economia e formas de revolucionar, ou melhor, que tratam do capitalismo; desastres naturais e econômicos, como a pandemia de Covid, nos fazem refletir sobre o Marketing da atualidade, que está interessado com o bem comum e com o nosso futuro.

Quando falamos de gestão jurídica, Design Thinking e de marketing jurídico, devemos imaginar como podemos criar uma sociedade melhor – inovar – a partir do Direito e do Design?

Não temos uma resposta pronta. Nunca teremos. Temos vários caminhos a seguir, e todos estão corretos e são inovadores se melhoram a vida das pessoas. Não necessariamente envolvendo o incremento de tecnologias.

Foi pensando em criar o conteúdo sobre marketing jurídico que criamos um curso que falaria sobre marketing jurídico, ecologia, compliance, design thinking, teoria U e outras áreas correlatas. Junto com a Bethania Santana (procura ela no LinkedIn e no Instagram) demos o primeiro passo do Novos Profissionais do Direito (@novosprofissionaisdireito no Instagram), ao oferecer um curso que envolvia todos esses aspectos. Hoje, o NPD – Novos Profissionais do Direito – trata de refletir sobre a sociedade em redes, as tecnologias e a inovação em direito. Já produzimos um Podcast (Conectlaw Cast), temos alguns vídeos no canal do Youtube, alguns eventos com a participação de muita gente interessante. Te convido para seguir a gente!

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