Por Danielle Alves
A tecnologia é essencial para o dia a dia e auxilia substancialmente inúmeras atividades, e em um escritório de advocacia não é diferente. É necessário que os advogados estejam sempre prontos a aprender e implementar novas tecnologias em seus negócios, isso pode ser a chave para destacar o escritório em um ambiente altamente competitivo.
Entretanto, toda tecnologia, não é capaz de, por si só, representar um diferencial competitivo para a banca: não sem as pessoas. Por essa razão é imprescindível cuidar do seu time e realmente ter um diferencial competitivo no mercado jurídico.
Aquela máxima: os escritórios de advocacia são compostos de pessoas que se relacionam com pessoas: sócios, colaboradores, clientes todos são humanos e esse é um ponto de reflexão. Dessa forma, a alta gestão do escritório precisa estar atenta ao clima organizacional, à atuação das lideranças, e à produtividade dos colaboradores, além de, é claro, estar atenta à qualidade de atendimento ao cliente.
Nesse artigo, a pretensão é trazer reflexões sobre cada um dos personagens envolvidos nessa relação, lembrando da necessidade de habilidades como inteligência emocional, empatia e respeito mútuos, e que essas competências se apliquem a todos os integrantes dessa cadeia.
Clientes: são os responsáveis pelas demandas feitas aos escritórios de advocacia. Quando corporativos, esses personagens são submetidos às pressões de suas próprias empresas, necessidade de redução de custo e aumento de performance que são diretamente repassadas aos escritórios; quando pessoas físicas geralmente a pressão é decorrente da própria lide resistida e da não obtenção imediata do suposto direito existente. Esses personagens precisam de muita empatia, inteligência emocional e maturidade para entender o cenário do judiciário brasileiro.
Sócios: responsáveis pela marca, cultura e alta gestão do escritório. Esses personagens são submetidos à pressão de dar a última palavra, desenvolver os talentos da organização ao mesmo tempo em que devem se aperfeiçoar e manter o negócio saudável. Para lidar com tamanha pressão necessitam de uma capacidade bem desenvolvida de liderança, conhecimento ajustado sobre delegação de tarefas e gestão de tempo, inteligência emocional e empatia. Ainda necessitam de conhecimento sobre áreas que permeiam o escritório de advocacia além do técnico jurídico, como por exemplo, mas não somente: planejamento estratégico, finanças, gestão de serviços, tecnologia, prospecção e fidelização de clientes.
Colaboradores líderes: são responsáveis por disseminar a cultura organizacional, cuidar para que as metas do planejamento estratégico sejam seguidas, liderança e treinamento dos colaboradores. Para esses personagens precisamos contar com inteligência emocional, resiliência, e um estilo de liderança responsável e inspiradora para que se equilibre a vontade dos sócios e dos colaboradores, atuando muitas vezes como intermediários de muitos dos assuntos organizacionais.
Colaboradores operacionais: são os responsáveis pelo andamento das rotinas e operação jurídica, envolvidos com os prazos, atendimento às demandas da liderança e clientes e pelos procedimentos que mantém o funcionamento de tudo. Para eles as habilidades principais são a inteligência emocional, trabalho em equipe, resiliência e proatividade, além de muita disposição para continuarem se aperfeiçoando.
Todos esses personagens em alguma medida e em maioria possuem uma carga elevada de pressão pelo resultado, excesso de trabalho, de responsabilidade e por vezes sentem-se solitários e despreparados para o atendimento das demandas colocadas sob sua gestão.
Obviamente espera-se que cada degrau dessa hierarquia seja percorrido com tempo, experiência e especialização para assumirem-se os cargos de liderança, entretanto nem sempre é o que ocorre. Isso porque, os advogados geralmente estudam e se aperfeiçoam nas áreas jurídicas de atuação e não necessariamente em gestão ou liderança, em muitos casos não há o desenvolvimento de soft skills que são essenciais para manter um ambiente saudável de convivência, uma relação positiva com os colegas e a manutenção da saúde mental dos personagens envolvidos.
A saúde mental dos advogados é sempre pauta de discussões no meio jurídico. Há anos a carreira jurídica vem sendo apontada como as principais profissões com desenvolvimento de depressão, ansiedade e síndrome de burnout. Há diversas pesquisas conduzidas que apontam que os advogados fazem parte de um dos grupos mais suscetíveis a esgotamento e uma série de doenças resultantes da exaustão.
Para corroborar os dados citados, há a Revisão Mundial Sobre Saúde Mental feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que divulgou em junho do ano corrente, planos e recomendações para que governos, acadêmicos e a sociedade em geral apoiem a transformação da saúde mental.
Diversos são os fatores que causam a ansiedade e a depressão sendo que a OMS divulgou que apenas no primeiro ano da pandemia essas doenças aumentaram mais de 25%, sendo certo que recentemente a OMS deixou em alerta as empresas com a recolocação da síndrome de Burnout como uma síndrome crônica gerada por situações desgastantes ligadas ao trabalho.
É essencial manter o foco e a atenção sob o aspecto humano da advocacia, sendo certo que algumas boas práticas se mostram muito assertivas para atingir esse objetivo:
Sob o prisma do escritório de advocacia:
- Promover um ambiente de treinamento e capacitação;
- Treinar as lideranças a atuarem de forma empática, buscando a solução dos problemas ao invés dos culpados;
- Investir em processos que evitem retrabalhos e aumentem a qualidade das entregas;
- Promover ações de desenvolvimento de inteligência emocional e gestão de tempo;
- Investir em um canal seguro de acolhimento psicológico, interno ou externo, para direcionamento dos advogados.
Sob o prisma do colaborador
- Investir no próprio desenvolvimento de soft skills e equilíbrio de papeis, entre o pessoal e o profissional. Entenda que a profissão é parte importante da vida, mas não é a única.
- Manter atividades físicas regulares e alimentação saudável. A prática de meditação auxilia muito;
- Evitar o perfeccionismo exagerado e a procrastinação, trabalhando fortemente a gestão de tempo;
- Praticar a autorresponsabilidade: é possível que a solução que procura esteja em você!
Portanto, manter um ambiente corporativo saudável é responsabilidade de todos no escritório. Certamente a prática de tais ações aumenta o engajamento e a produtividade, diminuindo consideravelmente o turn over.
É um ciclo virtuoso: o investimento nas ações que mantém o clima organizacional saudável, perfaz um time coeso e cada vez mais especializado, refletindo diretamente na qualidade e crescimento do negócio, além do fortalecimento da marca, que traz novos talentos orgulhosos e engajados em pertencer àquela organização.