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“A gente somos inútil”

Por Juliana Protásio

 

 

Em 1985 foi gravada a música intitulada “a gente somos inútil” que diz que a gente faz carro e não sabe guiar, a gente faz música e não consegue gravar, como se fosse obrigatório ter habilidade para dirigir carros e não somente para fabricá-los. Projetar, fabricar e desenhar um automóvel são atividades distintas da habilidade de conduzir um automóvel, logo sem vínculo necessário entre si.

Em 2023, e em anos anteriores, outra generalização tem sido feita: a todo momento se declara e reitera-se que os robôs vão substituir as pessoas e que o profissional de direito irá deixar de existir.

Não é preciso discorrer muito sobre o assunto para que, após o choque inicial, os profissionais de direito vejam que os advogados do amanhã serão diferentes do que somos hoje.

Tratando não apenas sobre inovação e mudança, mas também sobre pessoas, penso que sempre haverá atividades nas quais os humanos são melhores do que os robôs e que as atividades repetitivas e padronizadas devem ser entregues aos robôs.

Os robôs, na atualidade, tratam publicações, distribuem as publicações para os advogados responsáveis previamente indicados no sistema de acompanhamento processual e apontam prazos. Mas, há a necessidade da dupla checagem, há painéis que são inteligíveis apenas aos humanos.

A mudança não decorre apenas da robotização, mas sim da criação do infoproletário, como narra o sociólogo Ricardo Antunes. Estamos dentro da cultura do compartilhamento que criou a chamada uberização do trabalho, na qual trabalhadores dependentes da máquina digital como meio de trabalho são motivados a trabalhar mais de 8 horas por dia, tem pouco controle sobre as regras da empresa na qual trabalha, pouca criatividade e é invadido pelo trabalho mesmo quando está em casa.

Então, os infoproletários poderão ser os não empregáveis do futuro, porque são pessoas sem autonomia, com dificuldade para decidir e até para redigir, não porque querem ou assim se percebem, mas por ser a atual regra da economia, da cultura do compartilhamento.

Guiar carro pode até ser automatizado, feito por robôs, mas a habilidade de decidir questões éticas será sempre uma atividade na qual a presença do ser humano é imprescindível.

“A gente não somos inútil”, porque fazer carro e fazer música são atividades criativas que exigem contexto. Além disso é necessário o olhar do ser humano para que com sua inteligência emocional possa reconhecer as emoções dentro de um contexto e intervir em uma situação emocionalmente intricada. Então, poderá haver substituição dos infoproletários por robôs, no entanto os criativos terão sempre espaço.

 

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