O uso de novas ferramentas tecnológicas tem sido debatido constantemente nos escritórios de advocacia e comumente o conceito de tecnologia é confundido com o de inovação.
De acordo com o dicionário Michaelis, o termo Tecnologia é o “conjunto de processos, métodos, técnicas e ferramentas relativos à arte, indústria, educação etc.”
Por outro lado, inovação é a criação ou transformação de ideias em produto, serviço, processo ou modelo de negócio, que gerem valor para o mercado. É importante ressaltar que inovação e processos de inovação não podem ser confundidos com melhoria contínua, pois essa nem sempre gera valor para sociedade.
A inovação pode ser entendida de diferentes perspectivas, por isso é importante saber diferenciá-las. A inovação pode ser:
De objeto (criação de novo produto ou de qualidade);
Da magnitude (novo modo de produção ou comercialização);
De grau de novidade (descoberta de novo mercado);
De direção do esforço (mudança organizacional).
A respeito do grau de novidade, podemos analisar se a inovação é para a sociedade ou só para a organização. Sobre a direção do esforço, a inovação pode ser sustentada (parte de algo que já existe) e de ruptura (inovação disruptiva).
A inovação pode ter também diferentes dimensões, conhecidas como os 4 P’s:
Produto (novo produto ou serviço);
Processo (mudança na forma de produção);
Posição (mudança de posicionamento);
Paradigma (mudança no modelo de negócio, como se definem).
Em relação à magnitude da inovação, essa pode ser incremental (melhora algo que já existe) e radical (rompimento no mercado anterior criando algo novo).
Não é possível dissertar sobre inovação sem mencionar Clayton Christensen e Joseph Schumpeter. Considerado como “pai” da teoria da inovação disruptiva, que propõe a destruição criadora como motor para inovação (inovação em ondas), para Christensen cada nova virada de chave na história destrói e substitui a anterior, por meio das inovações; esse movimento foi denominado, anos antes, por Schumpeter como “destruição criativa”. Um exemplo é o que aconteceu com a Kodak (“momento Kodak”), com a Palm (criadora do palmtop) e diversas outras.
No cenário pandêmico, percebemos que as inovações se aglutinaram no tempo, a ponto de tornar-se verdadeira a frase “o futuro é agora”. Confundimos o que é do futuro com o que é do presente. As inovações mudaram a forma de nos comunicarmos, nos relacionarmos, de consumirmos produtos e serviços, de nos locomovermos, e muito mais, basta lembrar como era alguns anos antes da pandemia. É considerável refletir no primeiro modelo de carro foi lançado há 150 anos e hoje falamos de carros autônomos, elétricos, eVOTLs (“pouso e decolagem vertical à base de eletricidade”), etc.
Mas, quando a inovação é considerada viável? Quando ela gera valor para o cliente. O ponto de atenção é que não se trata de aumentar os custos, mas de encontrar valor reduzindo os custos. Essa é a Estratégia do Oceano Azul, apresentada pelos escritores W. Chan Kim e Renée Mauborgne, no livro de mesmo nome. Os autores utilizam a ferramenta da “Matriz de Avaliação de Valor” para eliminar, reduzir, elevar e criar, promovendo, simultaneamente, a diminuição dos custos, e gerando valor para o cliente, isso é inovação de valor.
Um assunto recorrente que tem pautado as organizações é a sustentabilidade associada à inovação. A inovação sustentável pode ser definida como o processo de inovação que leva em conta também o desempenho socioambiental.
Inovação é muito mais colaboração que tecnologia. Inovar é identificar e propor soluções para o problema, para tanto, podemos utilizar o Design Thinking. Tal abordagem propõe resoluções criativas e interativas a partir das perspectivas dos clientes, passando pelas seguintes etapas:
Empatia (imersão no problema, insights e entendimento de quem sofre com o problema, foco);
Colaboração (ideação das soluções, brainstorm e prototipagem, produto mínimo viável-MVP);
Experimentação (teste da solução validada).
A aplicação dessa metodologia no mundo jurídico recebe o nome de Legal Design Thinking.
A metodologia Lean Startup (Startup Enxuta), proposta por Eric Ries, no livro de mesmo nome, transforma as soluções propostas em modelo de negócio simples, para gerar e entregar valor para os clientes. Primeiro construir, mensurar e aprender, para depois refinar o plano de negócio (estratégia empresarial para alcançar os objetivos almejados).
O Lean Startup possui 03 pilares:
O primeiro é a ferramenta chamada business model canvas que visa desenhar hipóteses;
O segundo pilar é a abordagem chamada de customer development que visa testar as hipóteses com consumidores através do MVP (minimum viable product, ou produto mínimo viável);
O terceiro e último é o chamado agile engineering, ou seja, o desenvolvimento ágil que visa construir, mensurar e aprender.
Agora você deve estar se perguntando o que tudo isso tem a ver com o direito? Se inovação é analisar e propor soluções, por que não aplicar as ferramentas e metodologias da gestão da inovação no universo jurídico? Problemas e desafios para serem suplantados não nos faltam. Foque no problema, faça as perguntas certas, utilize as ferramentas adequadas para cada etapa, não tenha medo de errar. Lembre-se de que a diversidade, a colaboração e a multidisciplinariedade irão gerar um resultado singular.
Nick Balding, resume que “inovação é a exploração com sucesso de novas ideias.”
CARVALHO, Alexandre. eVOTLs: a real sobre os “carros voadores”. Superinteressante. 18/08/2022. Disponível em:<https://super.abril.com.br/tecnologia/evtols-a-real-sobre-os-carros-voadores/>. Acesso em: 21/08/2022.
COHEN, David. O enorme legado de Clayton Christensen. Exame. 24/01/2020. Disponível em:< https://exame.com/colunistas/david-cohen/o-enorme-legado-de-clayton-christensen/>. Acesso em: 21/08/2022.
CUBA-MANCEBO, C. RAFAEL, APOSTILA EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas (FGV) – Curso de MBA Executivo – Gestão da Inovação e Liderança, 2022.
KIN, Chan; MAUBORGNE, Renée. A estratégia do oceano azul: como criar novos mercados e tornar a concorrência irrelevante. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.
KIN, Chan; MAUBORGNE, Renée. A transição para o oceano azul: muito além da competição. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.
MARIANO, S.; MAYER, V. F. Empreendedorismo: fundamentos e técnicas para criatividade. Rio de Janeiro: LTC, 2000. p. 124.
MICHAELIS: dicionário escolar língua portuguesa. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2008.
Qual é a diferença entre Design Thinking, Lean Startup e Agile? Tera. Blog Somostera. 09/12/2020.Acesso em: 21/08/2022.
RIES, Eric. A startup enxuta: Como usar a inovação contínua para criar negócios radicalmente bem-sucedidos. São Paulo: Lua de Papel, 2012.